O Rio de Janeiro continua lindo?
julho 17, 2009
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Tags: ameaça, carioca, cariocas, Cidade maravilhora, Copacabana, Cristo Redentor, favela, favelas, Fundão, medo, perigo, pontos turísticos, rio, Rio de Janeiro, RJ, Shopping Nova América, terror, Turismo, UFRJ, violência
Não sei qual é a imagem exata que o pessoal de fora tem da cidade maravilhosa. A imagem (ou imagens) que o google passa é de um local lindo, só praias perfeitas, abençoado pelo Cristo. Apesar do pessoal saber da violência, será que tem alguma noção de até que ponto isso chegou? Será que sabem que essa cidade é praticamente uma prisão? Mas, para os cidadãos de bem?
Hoje venho fazer uma denúncia. Mostrar porque eu e mais uma quantidade enorme de pessoas não quer mais morar na referida cidade.
Quem gosta de sair de casa com medo de ser assaltado no ônibus, na esquina, no trânsito?
Quem quer ir ao shopping e ser abordado por pivetes pedindo dinheiro na praça da alimentação?
Quem quer correr o risco de ser atingido por uma bala perdida a qualquer momento?
Quem aguenta ser obrigado a mudar seu itinerário para evitar locais que, de tão perigosos, ficam impossíveis de se passar?
Quem quer deixar de ir a festas, sair a noite ou pegar a sessão de estréia do filme favorito as 24h sabendo que colocará a vida em risco ao voltar para casa?
Esta é a situação em que vivem os alegres cariocas. Uma situação de medo que afeta todas as amadas sociais. Assaltam taxistas, senhoras voltando do mercado, motoristas de moto-taxi, estudantes esperando o ônibus para a escola, professores subindo a passarela do metrô, motoristas e passageiros de ônibus, universitários indo a faculdade as 7h da manhã!
E não é só isso: há também as ameaças e intimidações. Mortes desnecessárias. Invasões e queimadas de transportes públicos. Arrastões. Barbaridades inomináveis.
Dá para se sentir seguro assim? E não importa o lugar. A zona sul é melhor policiada que outras áreas, mas isso não impede que aconteçam determinadas coisas. Afinal, a cidade está tomada de favelas, e isso trás uma marca ruim, não importa nde esteja.
As favelas estão se alastrando cada vez mais. Não há mais para onde fugir. Mesmo os lugares que ainda estão protegidos estão na reta do crecimento das moradias irregulares. Com isso, os imóveis estão cada vez mais desvalorizados e a violência cada vez mais irrefreável. Isso está levando a um movimento emigratório dos cariocas para cidades mais tranquilas e para outros estados. Assim que as pessoas conseguem uma situação mais estável, ou um jeito de ser transferidas no trabalham, saem aliviadas do Rio. Muitos amigos meus já se foram, vários outros estão de malas quase prontas. Frases frequentes tem sido estas: “assim que meus pais se aposentarem, me mudarei para a cidade tal. Não aguentamos mais a violência.”, “assim que meu filho terminar a faculdade, vamos embora para o estado X”, e assim por diante. Eu estou nessa linha. Procuro imóveis em outros estados, e assim que puder, vou para bem longe.
Ah, mas assim, parece que em outros lugares não tem violência, não é? Claro que não. Todos os lugares tem algum índice de violência, por menor que seja. Mas acreditem, depois de viver no Rio, acho que estarei mais segura em qualquer outro lugar. Sei que nada se compara ao que os cariocas se expõem ao colocar seus pés fora de casa (e as vezes nem é preciso ir tão longe).
Resolvi contar alguns pequenos casos, que aconteceram comigo, ou com alguém do meu círculo de vivência (ou num local que frequento).
Assaltos ao ônibus de integração do metrô de Del Castilho ao Fundão (campus da UFRJ) são costumeiros (e a vários outros que passam na cidade universitária e, consequentemente, pegam a linha amarela ou vermelha). Costumam roubar desde dinheiro, celulares e MP4 a MATERIAIS DIDÁTICOS! Já não é ruim o suficiente a pessoa perder dinheiro e etc, e ainda perde TODOS os livros que, muitas vezes são das bibliotecas. Sem contar livros caros e raros, e a matéria que a pessoa teve o trabalho de copiar. Imaginem o dano? E o que farão com os livros depois? Provavelmente usar como papel higiênico… Agora pensem nessa situação: todos os dias os “rapazes” assaltam os ônibus entre 12h e 13h (horário de grande movimento). Umas 2 semanas depois, a notícia aparece na tv, aparece um carro da polícia lá, que fica por UMA SEMANA. E depois acabou, dali há um mês os bandidos podem voltar a ativa.
Há uma cabine da polícia na linha amarela. Motoristas já tentaram denunciar o assalto assim que ocorreu, o que fizeram? Bem… vou deixar vocês imaginarem.
Então os ladrões começam a achar que sair da rotina é divertido. E resolvem assaltar o ônibus as 7h da manhã! ônibus cheio, pessoal indo para a primeira aula. Por que não aproveitar a manhã, quando os universitários ainda não gastaram o dinheiro em almoço e xerox?
E vai além. Assassinato. Em um desses assaltos, um dos ladrões simplesmente atirou no pobre do cobrador, que não tinha feito nada. Morreu lá, sem nem saber o porque. Mas nós sabemos o motivo: pura maldade.
Ainda falando do mesmo campus, mas descendo do ônibus. Imaginem uma turma fazendo prova, quando entra um homem e declara assalto? Imaginem uma professora no estacionamento pegando seu carro, quando é abordada por dois meninos pequenos, com roupa de escola pública, armados, tentando assaltá-la? A professora liga para o segurança da faculdade. Sabem o que ele diz? “Sou segurança patrimonial. Não posso fazer nada.” Ela avisa ao rapaz do estacionamento, sabe o que ele diz? “Não posso sair da cabine.”.
Já ouviu falar em São Cristóvão? Museus, Quinta. Foi residência imperial. Feira nordestina. Arrastão de assaltos mês passado. Sol a pino. Bairro com delegacia e quartel do exército! Devo ressaltar que esse tipo de assalto costuma ocorrer nas belíssimas praias também…
Já pensou em fazer suas compras de natal em um shopping, sentar na praça da alimentação, e na hora de levantar, perceber que sua sacola foi furtada? Você reclama e nada acontece, ninguém se mexe. Câmeras para que? Aquilo é só enfeite. Aconteceu comigo. Uma semana depo, no mesmo shopping, o mesmo caso se repetiu com um casal. E me disseram que havia acontecido também uns dois dias antes de acontecer comigo. Nome do shopping? Vou dizer sim, Nova América. Digo, porque sempre foi um dos shoppings que mais frequentei, e não nego que continuo frequentando. Porém, não consigo mais me descontrair como antes. Esse tipo se situação me faz dar nota zero apenas para a segurança desse shoppingVi que acontece o mesmo tipo de coisa em outros shoppings do Rio. E uma amiga já foi assaltada em um corredor de telefones públicos dentro do Madureira shopping (o cara estava armado!). Estejam atentos.
Essa já aconteceu em VÁRIOS shoppings: pivetes pedindo dinheiro na praça de alimentação. De mesa em mesa. E mais: já quase pisei em meninos de rua que estavam dormindo enrolados em cobertor EXATAMENTE na entrada do shopping!
Bala perdida no metrô. ônibus mudando de rota por causa de tiroteio na favela tal. E vira-e-mexe os bandidos simplesmente resolvem escolher um (ou mais) ônibus a dedo para tacar fogo! Tenho muito medo disso.
Em menos de um mês, minha sogra quase teve o carro roubado. Todas as vezes durante o dia, e ela escapou por pouco. A mãe de um amigo parou de sair a noite com medo disso, já havia sido abordada no trânsito várias vezes. Acabou se mudando para a região dos lagos e não quer mais saber do Rio.
Essa é frequente: imagina você pegar um ônibus, e quando este para em determinados pontos para pegar/deixar passageiros, é invadido (pelas portas traseiras e janelas!) por um bando de pivetes? É uma situação realmente horrível para os passageiros: nunca sabemos se eles vão tentar nos assaltar, fazem baderna no bus, ficam ouvindo/cantando funk alto, cheiram mal, fumam e até cheiram cola! Muitas pessoas descem assim que eles sobem (ou seja, são obrigadas a pagar outra passagem). Nenhum passageiro gosta. A maioria dos motoristas e cobradores se deixam intimidar. Mas em algumas raras vezes eles não aceitam essa situação e expulsam os pivetes sob uma enxurrada de ameaças. Perigoso, não? Mas fico realmente satisfeita quando não deixam eles permanererem no ônibus. Me sinto mais segura. Muita gente pode achar isso preconceituoso, mas acreditem, o abuso e intimidação que esses meninos fazem, o terror que eles colocam nas pessoas… é de admirar quando alguém consegu aceitar numa boa.
A intimidação também ocorre em relação a motoristas de carro. Ao parar nos sinais, sempre tem uns pivetes (alguns já marmanjos) que jogam uma água suja nos vidros do carro e pedem dinheiro. Quando a pessoa nega, começam a xingar, as vezes chutam o carro, fazem tudo para deixar a pessoa acuada.
Já assaltaram um senhor que mora aqui perto que estava indo trabalhar. Ele estava com pouco dinheiro e com uma marmita. Pasmem. Levaram até a marmita!
Andar em Copacabana e não ser abordado por pivetes é algo que nunca me aconteceu.
Um amigo estrangeiro foi assaltado no dia seguinte em que chegou no Rio, por um pivete, em Copacabana. Ele saiu do hotel e estava indo até o metrõ para me encontrar. No caminho até a estação, foi abordado pelos pivetes.
Uma professora foi assaltada na rodoviária do Rio ao voltar de São Paulo. Levaram tudo!
Tem vários outros casos, mas não pretendo ficar aqui escrevendo por horas a fio. Já deu para ter uma idéia né? É preciso não se deixar levar pela imagem de um lugar perfeito. Ou imaginar que a violência ocorre apenas dentro das favelas. Também não estou negando que o Rio tenha lugares realmente bonitos e maravilhosos. O Rio é uma bela cidade, e creio ter sido ainda mais, antes de ser poluída pela mancha deixada pelas favelas, pelo rastro de sangue e medo que se espalha, fazendo com que nós, que queremos aproveitar essas maravilhas, sejamos obrigados a ficar presos em nossas casas, com medo do pior. Nos fazendo prisioneiros na nossa própria cidade. Um lindo cenário para um filme de terror.
PS.: Optei pelo termo “favela” para me referir principalmente ao que está por trás (tráfico), ou seja, ao principal responsável pela violência.
É isso. Caso venham ao Rio, aproveitem bem, mas mantenham-se sempre atentos!
Até!
By Jennysakura